INTERAÇÕES SOCIAIS

"A psicologia sócio-histórica traz em seu bojo a concepção de que todo Homem se constitui como ser humano pelas relações que estabelece com os outros. Desde o nosso nascimento somos socialmente dependentes dos outros e entramos em um processo histórico que, de um lado, nos oferece os dados sobre o mundo e visões sobre ele e, de outro lado, permite a construção de uma visão pessoal sobre este mesmo mundo."

"O ponto de partida desta nossa reflexão encontra-se no grande valor que a teoria vygotskyana dá ao processo de interação e, em nosso caso específico, como educadores, às intervenções pedagógicas e ao ensino na construção do conhecimento."

"Quando nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante pensarmos que este referencial não compactua com a idéia de classes socialmente homogêneas[1], onde uma determinada classe social organiza o sistema educacional de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de mundo. Também não aceitamos a ideia de sala de aula arrumada, onde todos devem ouvir uma só pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos cadernos dos alunos de forma a reproduzir em determinado saber eleito como importante e fundamental para a vida de todos."

"Quando imaginamos uma sala de aula em um processo interativo, estamos acreditando que todos terão possibilidade de falar, levantar suas hipóteses e nas negociações, chegar a conclusões que ajudem o aluno a se perceber parte de um processo dinâmico de construção."

"É comum a afirmação de que PIAGET e os pesquisadores que colaboraram com seus trabalhos não se preocuparam com os aspectos sociais envolvidos no desenvolvimento cognitivo da criança. Nesse sentido, a teoria piagetiana é apontada por muitos como tendo deixado de lado uma questão considerada primordial, e que seria salientada por outras correntes teóricas como a de VYGOTSKY , por exemplo. Daí ser o termo socioconstrutivista utilizado, pelo menos em nosso meio, em referência aos trabalhos que se inspiram, por exemplo, na corrente da Psicologia soviética, e reservar-se com mais freqüência o termo construtivismo para os trabalhos de PIAGET e seus colaboradores."

"...os fatores sociais não são preponderantes, nem atuam de forma isolada. As interações sociais não são em si mesmas geradoras de novos sistemas ou formas de conhecimento, mas podem suscitar certas situações de conflito que, por sua vez, podem dar lugar a novas estruturações cognitivas. É nesse sentido que as interações sociais não são constitutivas em si mesmas, mas constitutivas do processo de equilibração."

"O aspecto construtivista no quadro da teoria de PIAGET está direta e necessariamente ligado à atividade do sujeito.(...) Falar em atividade do sujeito remete a um outro postulado de base do construtivismo, que considera o conhecimento não como uma simples cópia ou uma absorção do real, mas como uma reelaboração.(...) O conhecimento se constrói através das interações sujeito-objeto."

"Num enfoque construtivista, em que se atribui ao sujeito um papel ativo, o aluno é responsável por seu próprio processo de aprendizagem. (...) Cabe ao professor criar situações, implementar condições para que se desenrole o processo de construção."

"... parece difícil (para não dizer impossível) ser construtivista sem pensar nos aspectos sociais envolvidos na construção de conhecimentos. Na medida em que o construtivismo está intimamente ligado ao interacionismo, e que os mecanismos de equilibração têm um caráter não apenas individual, mas também social, não pode haver um “construtivismo” puro, pois este é intrinsecamente social."

Publicação: Série Idéias n. 20. São Paulo: FDE, 1994.

Páginas: 41 a 47



[1] Cristal de massa, tudo igual. Humanamente se sabe que não há igualdades nestes moldes.

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