Reflexão sobre a Educação

PROF. JOSÉ ANTUNES DE SOUZA


1. Quais as ideias centrais do pensamento de Sócrates sobre a educação? Qual o método utilizado por Sócrates para o desenvolvimento do filosofar? Este método teria sentido na educação em nossos dias? Quais as principais contribuições de Sócrates para a educação?

As ideias de Sócrates denotam um novo olhar para a educação, o olhar a si mesmo para então construir/demonstrar o saber. É o convite do ir além ao tido como natural. “Sócrates serviu como um treinador e um mentor para os jovens de Atenas” (MANNION, 2008, p. 31)[1]. Sócrates ao propor questões em busca de respostas subjetivas promove a mente do dialogante e, sendo a resposta original e do interior surge a ideia de maiêutica, isto é, o passo a passo de auxiliar a despertar o saber adormecido intrínseco em cada um.

Quanto à possibilidade de se encontrar sentido na aplicação de tal método em nossos dias, considero que o tempo cronológico passa, vão-se os anos, os séculos, os milênios; a forma de aprender passa de contos para a escrita, o homem sabe (sapiens), faz (faber) e se relaciona (ludens) e algo permanece “instigante” a todo esse processo descrito – a pergunta! Não há evolução sem um problema, uma dúvida, uma busca por solução, resposta. Sócrates sabiamente usou da pergunta para auxiliar o nascimento racional, racional no sentido de libertador, incentivador de autonomia.

Sendo assim, vivencialmente é possível fazer uso deste método, tendo em vista que em nossos dias, mais do que nunca há sede pelo saber real e concreto. Sim, enxergo que há esta sede em saber, uma vez que há multiplicidades de áreas de saber e cada vez mais detalhadas, assim não há um geral e sim um especifico, um melhor preparado, assimilado e vivido, um melhor escolhido por um caminho de afinidades. Afinidades estas, para mim, a solução para as dificuldades em sala de aula, uma vez que o agente causador das dificuldades é o aluno desinteressado que está ali, na sala, obrigado por uma propaganda educadora, educadora de massa, de cultura de massa que visa um emparelhamento por baixo, onde não existirão pessoas conscientes, questionadoras, esclarecidas. Uma vez que “dificultadores” não deixarão afins avançarem o suficiente, mas sim poderão causar uma conformação, aceitação, estagnação na menoridade da qual Kant tratou, ou seja, não poderão ir a uma busca de esclarecimento num processo de servir-se de si mesmo sem necessitar da ajuda de alheios.

02. Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?

Ao se pensar educação já se compreende uma relação atitudinal melhorada, passar pela educação é melhorar num todo o existir de cada um. Assim, aprender implica galgar passo a passo para ações conciliadoras, de maior aceitação a si, ao outro e ao bem comum, logo se deve ser ético. Uma noção de dever, estritamente necessário para o convívio harmonioso evolutivo de um todo.

Por ser primeiro ano como Professor, e de disciplinas até em tão pouco “esclarecidas” aos alunos que participam das aulas, uma vez que há falta de Professores habilitados e entusiasmados por tratar do “espírito filosófico” em muito tenho refletido sobre o formar-se nas escolas que conheço. Tristemente ainda há casos de despachos, ou seja, empurram os alunos para que aconteça uma libertação deles da escola. Aí questiono – que cidadão orientamos? Que representação teremos? Um exemplo que uso com os formandos – penso em vocês como uma turma de médicos que estão se formando, a partir do interesse de vocês numa nota de 1 a 10 qual a qualidade da saúde que teremos?

Sendo uma possibilidade de formação “virtuosa” a educação necessita ser melhor “entusiasmada” em seus agentes entusiamantes – os Professores, as equipes pedagógicas, a direção, as secretarias de estado, país por uma busca de formação e não de índice de Ideb. Ponderantemente[2] o exemplo vem daqueles que estão à frente numa relação de instigar as mentes ávidas[3] pelo conhecimento ao pleno desenvolvimento cognitivo e acima de tudo humano.


QUESTÕES

a) Qual a diferença entre conhecimento e opinião na perspectiva do mito da caverna de Platão e quais as conseqüências de um posicionamento ou de outro?

Ao tratar “opinião” e conhecimento a partir de uma concepção platônica do mito da caverna, é possível dizer que: se o conhecimento é algo reminiscente, isto é, as perguntas intrínsecas em cada um devem ser apuradas para que daí brote a luz original daquilo que se é, se pensa e enfim se constitui em saber. Na ótica de opinião, até então a mais aceita, uma vez que estão presos à condição de que vendo as “representações” estejam vendo a realidade, a realidade deles.

No entanto, há um apontamento de luzes na descrição do texto “e se alguém libertasse um dos prisioneiros”, mas e se a lembrança levasse um dos prisioneiros a buscar esta libertação? Aqui, supostamente ficaria claro a razão conhecedora de cada um. E a aceitação de ir ou ficar, na continuação quando este retorna e convida os demais seria a aceitação de condicionados, ou condenados a não buscar o saber.

O posicionamento a partir da opinião ficaria com estes que não quiseram sair em busca de novos conhecimentos e preferiram ficar onde estavam, alegoricamente, na caverna, na representação, no que parece ser enquanto que o “libertado” e aqueles que mesmo contra a vontade dos demais ouvissem ao convite e rumassem em busca da realidade seriam os conhecedores, aqueles que atendendo ao “convite” de outro ou de si a partir de uma necessidade intrínseca e até então desconhecida.

b) Como Platão descreve a realidade no Mito da Caverna?

Platão na alegoria da caverna lembra a condição “inicial” daquele que pode construir conhecimento, o homem. Ele parte de uma posição aprisionada, isto é, estagnada na própria incerteza de se ver o real ou o imaginário. Para um esclarecimento é preciso uma “dualidade”, um impulso ao novo, ao diferente, uma vontade de ir além dos limites – aprisionado; aí então há o deslumbramento com o real e o despertar para a intenção de comunicar ao outro, aos demais.

Porém, estar parado, aprisionado, num modo todo construído a mostrar sempre a mesma forma de “real” leva à confusão da certeza não esclarecida, isto é, a de não aceitar ir além daquilo que já se julga saber, aqui como aquilo que definitivamente se sabe!


c) Como se caracteriza o processo de libertação do prisioneiro?

Como o passo ao além do habitual, ou seja, aquele que se “descobre” ou está se descobrindo mundo de possibilidades. O olhar apurado aos cantos com maior intensidade de luz pode ter despertado a “curiosidade” de buscar.

A descrição do momento em que se depara com o diferente para o que até então sabia, mas o “real” para o mundo fala de dor, de incerteza, mas enfim de uma vontade de compartilhar, aqui está o que entendo como primeira causa da sua libertação, não há quem o liberta como não há quem o incentive a ir falar com os outros, ele mesmo entendeu isso.

d) Em que medida a educação pode contribuir para manter as pessoas aprisionadas na caverna?

Pensar a educação é pensar no passo a passo até ali, para ir até ali se precisa caminhar, por caminhar entende-se o ato de não estar parado, logo caminhar e estar na educação exige movimento. No entanto, quando surge na proposição educacional a “conformidade” e lhes dão valor, a caverna começa a ser novamente habitada. E como é normal abarrotar a caverna ao invés de lançar luzes para que os curiosos intentem ir além. Realmente, passar aluno de terceiro ano de Ensino Médio para que ele não incomode no ano que vem é mais fácil que trabalhar as dificuldades e os seus verdadeiros anseios. Se ele não tem anseios onde será que ele perdeu? Tendo em vista que passou mais ou menos dez anos freqüentando a instituição “formativa” escolar.

Estes comentários são elucidações particulares e questionamentos pessoais advindo do aprendizado adquirido na formação em filosofia, onde se aprende a ponderar que nem tudo que parece é, e que o ser relativo pode passar muito tempo como dono dos próprios acontecimentos até que em alguma época, alguma ideia, alguma “evolução” os fatos se transformem e assumam aquilo que dele se esperam para o maior bem comum a todos.

e) Quais as possibilidades da educação que temos contribuir para a autonomia, para libertação das pessoas?

Ao falar em possibilidades de contribuição para a autonomia e libertação das pessoas, conclui-se que só a Educação é a saída! Tendo em vista que toda forma de transmissão de conhecimento, de aviso, de conselho, de formação, de solidariedade são ações que partem de quem recebeu “educação” e por isso agem de tal forma, assim mais e mais farão ações semelhantes.

Porém, a situação atual da nossa educação enquanto instituição caminha para uma formação de cada vez mais concorrentes e desqualificados “roladores de tora” e em breve nem varredores de rua, vê-se o caso em São Paulo, maior cidade do nosso país, onde há grande número de “doutores”, “mestres”, “especialistas” e “graduados” disputando vagas de garis no qual exige-se Ensino Fundamental.

Em relação à obrigação em manter o aluno até os dezessete anos de idade na escola, isso é um grande passo para trás, uma vez que mantém ali, obrigado pessoas que não querem instruir-se e estas privam a capacidade de muitos que pensam em formar-se com qualidade. Mas pensando em tudo isso acabo concluindo que o que eu posso fazer é ir galgando passo a passo na minha própria saída da menoridade de que trata Kant e agindo com a intenção do mesmo Kant com o imperativo categórico de “O que posso saber? O que devo fazer? O que me é permitido esperar?” Assim “Aja de tal sorte que a máxima da sua vontade possa sempre valer, ao mesmo tempo, como princípio de uma legislação universal” (BARAQUIN, 2007, p. 164).[4]

(...) Sei que havia muita gente sonhando, como eu, com uma escola diferente e que a escola dos meus sonhos já existia – sem que eu pudesse imaginar que tão perto... (ALVES, 2008, p. 24).[5]



[1] Cf. MANNION, James. O Livro Completo da Filosofia – entenda conceitos básicos dos Grandes Pensadores – de Sócrates a Sartre. Trad. Fernanda Monteiro Santos. 5 ed. São Paulo: Madras, 2008.

[2] Ponderantemente porque somos sabedores de que o eu, o você, a Instituição, o planejamento, o saber deve “instigar” aquele que busca o aprender. No entanto, para ser “ponderado” deve ser formado, atualizado, remodelado, integrado, inovado e acima de tudo vivido.

[3] Cito aqui uma frase de John Nash no filme “A beautiful Mind” – (Uma mente brilhante).

[4] BARAQUIN, N. Dicionário Universitário dos filósofos. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

[5] ALVES, Rubem. A Escola com que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir. 11 ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.

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