“Levavam vida errante à maneira das feras... não sabiam ainda tratar das cousas pelo fogo, nem usar as peles, nem cobrir o corpo com os despojos dos animais selvagens; habitavam os bosques e as cavernas das montanhas”.
Desde, porém, que aparelharam casas, peles e fogo, e a mulher, unida ao homem alojou-se em uma morada... e conhecerem a prole procriada por eles, então, pela primeira vez, começou a suavizar-se o gênero humano. E a natureza levou-os a emitir os variados sons da linguagem, e a necessidade formou-lhes os nomes das cousas, pelo mesmo caminho pelo qual a própria infantilidade da língua parece inclinar as crianças ao gesto, quando as faz mostrar com os dedos os objetos presentes. E o raio trouxe o fogo pela primeira vez aos homens sobre a terra... E o sol ensinou-os a cozer os alimentos e amolece-los com o vapor da chama. E o gênero humano submeteu-se mais espontaneamente às leis e ao rigor do direito, pois se achava cansado de passar a vida na violência e se encontrava debilitado pelas hostilidades. O cobre e o ouro, o ferro, e a pesada prata e o dúctil chumbo foram encontrados em lugares onde o fogo queimara com ardor a selva sobre as altas montanhas... E então tiveram a intuição de que esses metais, fundidos pelo calor, poderiam adaptar-se a qualquer forma e classe de cousas. E as roupas tecidas apareceram após o descobrimento do ferro, pois com este metal preparam os teares. E a própria natureza, criadora das cousas, foi o primeiro modelo das
sementeiras e dos enxertos... Por isso, tentavam outros e outros cultivos no seu querido campinho... E cada dia obrigavam as selvas a retirar-se para os montes e ceder lugares mais baixos às culturas. E a navegação, a agricultura e a arquitetura, as leis, as armas, os
caminhos, as roupas e as outras comodidades do mesmo gênero, e todas as outras delícias da vida desde os seus fundamentos, e a poesia, a pintura e a polida escultura, ensinou-lhes, pouco a pouco, a necessidade juntamente com a experiência da mente insone progredindo passo a passo. Assim, aos poucos, o tempo faz aparecer cada umas das cousas singulares, e a razão as eleva à região da luz: viam, pois, no espírito, iluminar-se uma cousa por outra, até que, com as artes, alcançaram a culminância. (Texto usado na Dissertação de Mestrado de Dagmar Trautmann De Rerun Natura - EPICURO in T. LUCRECIO CARO – 96- 95 aC. Citado por MONDOLFO – (1964).

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