A PERSPECTIVA DE UM PROFESSOR ACT EM SANTA CATARINA

O texto que segue foi enviado para o Jornal Cruzeiro do Vale, da cidade de Gaspar SC para eventual publicação.


Por José Antunes de Souza

Verdade seja dita: rolar uma pedra morro acima e quando se “termina” este ciclo ela ser rolada para baixo a fim de que novamente se desça e torne a subí-la para que novamente isso ocorra, é uma função cansativa, ingrata, desesperadora.
Apresentei uma paráfrase ao mito de Sísifo de Albert Camus, filósofo francês. Ela serve em muito para ilustrar o processo de cada Professor ACT que se dedica a uma carreira nobre, que exige postura, inteligência, capacidade, conforme Carl Rogers explicita em Tornar-se Pessoa :

(...) importância de um educador consciente de suas atitudes e sua capacidade de compreender os sentimentos e as reações do seu aluno, ou seja, a importância de ser uma pessoa real, “não a encarnação abstrata de uma exigência curricular ou um canal estéril do qual o saber passa de geração em geração” (1991, p.265).

Ser Professor, Lehrer, Teacher, Professeur, conforme descreve o comercial na TV visando um incentivo para que os jovens queiram seguir tal Profissão. Uma motivação louvável, pois ser tido como o “motivador” de grandes desenvolvimentos pelo mundo é algo nobre! Mas olhar para a situação atual, que vivo e conheço me mostra outro lado. O de que não é isso que querem vender. Pesquisem sobre a quantidade de escolas em nosso estado que tiveram e estão tendo grande dificuldade com o início das aulas neste ano. Tendo escolas a ter 3 Professores apenas e, digo a vocês – não é falta de Professores na grande maioria dos casos, tem Professores sim,o que acontece é uma política de vagas que não podem ser quebradas, isto é, oferecem 40 horas e ponto final, não importa se o Professor que ficou classificado bem na lista dê aula em outros lugares, que ele tenha apenas um horário disponível, é aquilo e pronto; errado ou certo? Dá para se falar em duas versões, primeira o Professor melhor colocado nem sempre está disponível para todos os horários que as vagas propõem porque ele não é apenas Act como (parece que o edital) espera que seja, isto é, que esteja um ano todo empregado, ou parcialmente conforme surgem as vagas de licenças, afastamentos, funções gratificadas etc (um bom profissional vive para esperar vagas assim?), no fim do ano desempregado e a espera de vaga para o ano seguinte (uma espécie de escravo do sistema).
Por segundo a versão boa para a vaga completa, quem quiser atuar como Professor sem outra opção, então sendo ACT que se dedique somente a isso e ponto final. Isso seria uma maravilha, mas quem assume esta vaga nem sempre é o melhor classificado e logo o que teria mais a oferecer aos cidadãos em formação.
Em época de renovação de governo vê-se tantos projetos apresentados, tais como o de bolsas para financiar o Estudo Superior em nosso Estado. Louvável a intenção, mas lembrado via twitter quanto ao compromisso com o Ensino Público e não enriquecimento do Ensino Privado, pois para se estudar nas Instituições lá citadas é preciso pagamento, isto é, as vagas dessas instituições seriam preenchidas por estudantes patrocinados pelo Governo... surge aqui um questionamento. Sendo a intenção muito boa, a de investir dinheiro público para preencher vagas de instituições privadas, tendo como objetivo a formação de mais profissionais, de dar oportunidade aos jovens, como seria se estes jovens viessem a se tornar Professores e ACTs? O que resolveria tal investimento? Pois, no período de estudo raramente conseguiria uma vaga em sala de aula, quando habilitado, quatro ou cinco anos depois iria para uma prova classificatória e mesmo que ficasse bem colocado, caso tenha um outro emprego, pois foram anos para se formar, ele precisava se manter de alguma forma ele talvez não poderia assumir alguma vaga, pois teria que para isso se desfazer do que o manteve até agora.
Outro ponto as chamadas, na primeira aparece um número bem pequeno de vagas, e quem porventura ainda depende de ser ACT para se manter se pegar uma vaga na qual se classificou (porque o edital previa que com o Ensino Médio se inscreveria para qualquer disciplina do Ensino Fundamental, e muitos fizeram isso) não pode, depois deixar esta vaga para assumir uma de sua especificidade, pois ficaria eliminado o restante do ano, não podendo atuar como Professor da Rede Estadual neste período. Pergunto: quem, na verdade sai ganhando com isso? Uns diriam a ordem do processo seletivo tem que valer, é a autoridade, outros diriam que é justo. Mas o que deveria estar em questão seria a justiça burocrática de idéia concretas vindas de um órgão ou o aprendizado dos alunos? Um Professor não formado na disciplina não oferece o mesmo que um formado ofereceria!
Assim, no inicio de mais um ano de subida de pedra morro acima, gera-se a esperança de que em 2011 surja a possibilidade de se encontrar um lugar fixo e seguro para a pedra pesada que a cada ano, cada prova, cada escolha, cada desistência duramente se empurra. Que surja Concurso na área da Educação e que os profissionais que levam a sério a Educação sejam efetivados e as crianças tenham bons Professores em suas salas, em suas vidas!

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